quinta-feira, 24 de setembro de 2009

RIOS DA CIDADE SÃO POUCO CONHECIDOS PELA POPULAÇÃO.
Adriano Jacob

Rio das Tripas, Camurugipe, Lucaia e Rio do Cobre. Estes são alguns dos principais rios que cortam a cidade do Salvador, mas muita gente ainda se confunde na hora de identificar por onde eles passam. O Rio das Tripas, por exemplo, um dos mais comentados, nasce e deságua onde? E aquele rio que chega à praia do Largo da Mariquita (Rio Vermelho), qual o nome dele? Quem acha que aquele é o Rio das Tripas está enganado.
Na opinião do professor e historiador Cid Teixeira, a confusão com os rios da cidade ocorre porque muita gente acha que sabe história sem ter estudado o suficiente. “Todo mundo acha que pode dar palpite quando o assunto é história. Todos têm algo a dizer, uma informação curiosa a acrescentar, mas isso acaba atrapalhando”, diz Teixeira.
Os Rios de Salvador, que já foram límpidos num passado muito distante, hoje estão poluídos por causa da urbanização da cidade e da falta de esgotamento sanitário, que só foi implantado de forma eficaz a partir de 1978, de acordo com o engenheiro Paulo Segundo Costa. “Como o esgoto era jogado nos rios, o resultado é a poluição e o conseqüente mau cheiro que sentimos hoje em alguns pontos”, explica o engenheiro, que já trabalhou como secretário de Obras e Urbanismo em algumas administrações da cidade.
Um exemplo pode ser constado no Jardim de Alá, no rio que corta o Parque Costa Azul e deságua na praia, ao lado do Jardim dos Namorados. Aquele é o Rio Camurugipe, que nasce em Campinas, no bairro de São Caetano, nas proximidades da BR-324. Passa por Bom Juá, Mata Escura, Calabetão, Retiro, Barros Reis, Rótula do Abacaxi – onde recebe as águas do Rio das Tripas – Pernambués e segue para a Praia do Costa Azul. Quem conhece o local há muito tempo sabe que apesar de hoje ainda haver problemas, principalmente no período de chuvas, a situação do rio já foi bem pior e está melhorando. Um dos motivos é o Bahia Azul, programa desenvolvido desde 1996 pela Embasa e pelo governo do Estado da Bahia. Um dos objetivos do programa, que deve ser concluído no ano que vem, é otimizar o sistema de esgotamento sanitário da cidade para que os esgotos não sejam jogados nos rios e, conseqüentemente, no mar.
De acordo com a assessoria de imprensa da Embasa, uma parte do esgoto que era jogada nos rios foi desviada a partir do interceptor do Camurugipe, que fica perto da Estação Rodoviária – para a Estação de Tratamento do Lucaia, onde o esgoto é separado e tratado com bombas de alta tecnologia. Depois disso, é jogado no mar pelo emissário submarino a uma distância de 2.400 metros da costa, considerada segura para o meio ambiente pela empresa. Além disso, segundo a Embasa, este esgoto tratado não oferece mais risco de poluição à água do mar. A outra parte do Camurugipe, que não vai para a Estação do Lucaia, é a que segue para o Costa Azul. Este desvio do Camurugipe só é feito no tempo seco, fora do período de chuvas, porque quando chove o volume de água aumenta muito.

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA BARROQUINHA

Outro Rio importante é o Rio das Tripas, afluente do Camurugipe. Pouca gente sabe, mas o rio, considerado um dos mais importantes para a história da cidade, nasce na Barroquinha.
“O Rio das Tripas recebeu esse nome porque bem perto dele funcionava o matadouro da cidade”, explica Paulo Segundo da Costa. Ele nasce na Barroquinha, passa pela Baixa dos Sapateiros, Taboão, Aquidabã, Sete Portas, Dois Leões, e deságua na Rótula do Abacaxi, no Rio Camurugipe. A maior parte do famoso rio é subterrânea. Na altura do Corpo de Bombeiros, na Barroquinha, ele passa a seis metros da superfície, segundo o engenheiro.
“Ele só fica descoberto a partir da Sete Portas”, esclarece.
Um outro afluente do Camurugipe é o Rio do Cobre, que já foi uma das fontes de abastecimento da cidade que hoje também está poluído. A barragem do rio, que nasce na Vila Canária, fica na Jaqueira do Carneiro. Nas proximidades da Rótula do Abacaxi, suas águas se encontram e seguem com o Camurugipe. Já o rio que deságua no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, é o Rio Lucaia. Ele nasce no Dique do Tororó. De lá, uma parte é canalizada até o Ogunjá, passa pelas avenidas Vasco da Gama e Juraci Magalhães, e deságua no Rio Vermelho.
Uma questão importante quando o assunto é a preservação dos rios é o comportamento da população. De acordo com a Embasa, um dos principais problemas para a limpeza dos rios é que as pessoas não sabem diferenciar o lixo do esgoto. Muita gente acaba jogando bacias, latas velhas e pneus no esgoto, mas isso só vai entupir a rede e trazer problemas para a comunidade. Estes produtos deveriam ser jogados no lixo. Por causa disso, a empresa faz um trabalho de educação sanitário-ambiental em paralelo às obras nos bairros. O objetivo é ensinar aos moradores regras de como lidar com o meio ambiente sem agredi-lo.

MATADOURO DA BAHIA

Pouca gente sabe, mas o primeiro matadouro da Bahia funcionava no terminal de ônibus da Barroquinha. As vísceras dos bois eram jogadas numa vala que nasce no local, chamada na época de Vala de Cidade. Com o tempo, as pessoas começaram a chamar a Vala de Rio das Tripas, explica o historiador Cid Teixeira.
O abatedouro saiu dali e foi para o Barbalho, mas o nome ficou gravado.
A Vala da Cidade nascia na Rua da Barroquinha, atravessava a Praça das Veteranos e passava pela área que hoje é a Baixa dos Sapateiros até chegar aos Dois Leões, onde se encontrava com o Rio Camurugipe. O historiador explica que boa parte do que hoje se conhece por Baixa dos Sapateiros era , na verdade, a Vala da Cidade.
“No início, a Baixa dos Sapateiros era apenas aquele trecho abaixo do Pelourinho, entre o Passo e o Taboão. Entre as décadas de 60 e 70 do século XIX, alguns vereadores contrataram José de Barros Reis para cobrir a vala e transformá-la numa rua”, conta Teixeira. Barros Reis fez uma obra de engenharia e transformou a Vala da Cidade na Rua da Vala, que por extensão também passou a ser chamada de Baixa dos Sapateiros. “Esta foi a primeira Rua de Vale que a Bahia teve”, diz o historiador, confirmando a importância do Rio.
Outro fato curioso é o rio que hoje atravessa a Avenida Centenário. Cid Teixeira explica que este rio nunca teve nome. Ele nasce na Rua Miguel Bournier, na Barra.
“Por isso algumas pessoas o chamam de rio ou riacho Bounier.” O riacho sem nome passa pelo Vale do Canela e se divide. Uma parte vai para o Tororó e a outra vai par a Avenida Centenário, desaguando na praia do Farol da Barra.

JORNAL CORREIO DA BAHIA, 27 de fevereiro de 2002.

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